Eira LI : Olas, ulas olas ?

 
Olas,
ulas olas ?
*

Cem anos já sem lumes, sem brasas,
nem de carrejar carros de lenha.
Esses velhos fornos abandoados
som anacos de velhas histórias.

As olas da nossa geologia,
símbolos da nossa enxebre terra.
Nais das argilas, nossas mans.
Terra velha em naquinhos.

Arumes de carvalhos
e fumes de pinheiros.
Cortiças de sobreiro
e galhas de salgueiros.

Raíces do tojo arnaz,
das árvores, galheiros.
Nossos antepassados,
raíces fermosas e recordos.

Olinhas de auga e de vinho,
olas dos suores queimados
nas fadigas dos labregos.
Horas de corpos atiçadores.

Olas que deram de beber,
enchidas de pingas da vendima,
nos eidos dos caminhos de lama.
Cuncas feitas cos bosques ardendo.

As mans amassadoras da terra,
ferramenta dos dignos poteiros.
As louças herdadas das avoas,
mailas suas receitas conservadas.

Amanhecerá das vossas ruínas
o arte enxebre i espiritual,
um filho dos nossos eidos,
cozido coa terra milenária.

Relíquias que lembrarám
à vida humilde, sacrificada. 
Terra que falará bem falado
da terra que coa fame cozeu-se.

Fornos da nossa olaria,
sangue quente dos oleiros
alumiando-lhe a paciéncia
aos labregos de Cartelhe.

Na frescura das suas fontes,
polos vasos mailas jerras
bordava a auga da vida
nas olas de Santo Tomé.






Moradelha editora





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