Eira XVI : Campá de cristal

 
Campá de cristal
Meninha de Deus



1
Encolhida numha campá de cristal,
tapava coas mans as suas duas orelhas,
pois tinha os seus tímpanos rebentados
de tanto ouvir conselhos.

2
A cabeza ardendo polos recordos,
a coitada pedia socorro ao ceo.
Como lamentos voavam as bágoas
na casinha de cristal.

3
Loitando a berros e choros coas ondas,
esperava um milagre, alí pechada, 
que lhe devolvera as suas arelas
e as suas ás nas costas. 

4
Apareceu como vento de estrelas
uma fermosa folha de aziveira,
que tinha as suas beiras coma diamantes,
e cor da esperança a pel.

5
Furando a campá, sem a rachar sequer,
sete puntas, sete agulhas brilhantes,
folha de azivre com lume amarelo,
pousou-se-lhe no peito.

6
Ela liberou as mans dos ouvidos,
dando-lhe entom à folhinha agarimo,
deixou de escuitar aqueles sonidos,
cum siléncio harmonioso.

7
Ao parar aquel horrível tormento,
a campá de cristal volveu-se de ouro,
dando a volta em redondo coma cunca,
sem mover a meninha.

8
Dum divino ninho, Ela na copa,
a pequena Deusa, eséncia divina,
um sorvo primigénio do amor de Deus,
nascemento de Venus.

9
A cunca que sana os padecementos
é a campá que crea um Mundo novo,
como um gram tesouro universal,
que navega polo ar.

10
Uma Deusa de bondade infinita,
um coraçom sagrado de aziveira,
cos lacrimales de flores de jasmim,
dentro dum ninho de Deus.

11
Alumiava o lugar a cunca de ouro,
com aquela meninha em pé no centro,
que ía a botar-se do ninho a baixo,
no iniciático voo.

12
Coma o primero voo dum paxarinho,
coa fe firme de que podia faze-lo,
contente de que o ceo sulcaria,
sabente que voaria.

13
E sabente de nom volver a chorar,
voava rumo ao campo das estrelas,
em pesca da sua ánima gémea,
camininho do seu Lar.

14
Como se fora uma estrela amarela,
que saindo da dourada casinha,
voava como imperial criatura,
minha Nai, minha Deusa.

15
Por onde pasara, os eidos pintava
cum azul celestial, ceo, terra e mar 
i enchian-se as beiras das casas todas
com horténsias e rosas.

16
Navegava cara o cabo do Mundo
aquel potente e fermoso espírito,
tam cheio de forza, de amor e tenrura,
o meu Sol, minha vida.


***




Moradelha editora



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