Publicacións

Eira LI : Olas, ulas olas ?

  Olas, ulas olas ? * Cem anos já sem lumes, sem brasas, nem de carrejar carros de lenha. Esses velhos fornos abandoados som anacos de velhas histórias. As olas da nossa geologia, símbolos da nossa enxebre terra. Nais das argilas, nossas mans. Terra velha em naquinhos. Arumes de carvalhos e fumes de pinheiros. Cortiças de sobreiro e galhas de salgueiros. Raíces do tojo arnaz, das árvores, galheiros. Nossos antepassados, raíces fermosas e recordos. Olinhas de auga e de vinho, olas dos suores queimados nas fadigas dos labregos. Horas de corpos atiçadores. Olas que deram de beber, enchidas de pingas da vendima, nos eidos dos caminhos de lama. Cuncas feitas cos bosques ardendo. As mans amassadoras da terra, ferramenta dos dignos poteiros. As louças herdadas das avoas, mailas suas receitas conservadas. Amanhecerá das vossas ruínas o arte enxebre i espiritual, um filho dos nossos eidos, cozido coa terra milenária. Relíquias que lembrarám à vida humilde, sacrificada.  Terra que falar...

Eira L : Hélio e Carina

Imaxe
  Hélio e Carina Noitece em Samtomé * Mais alá de Andrómeda queda-nos o infinito. Nom tenhas presa, meu rei, pois nom haverá ninguém, que chegue diante de nós. A Hélio levou-no a tardinha polo coto de Novelhe. A noite troujo a Carina alá polo alto de Trelhe. O nosso Sol escondeu-se quando apareceu a Lua. Ouvea na noite a loba perguntando às nebulosas se há alguém por riba delas. Cometas no firmamento. Noitece cum ceo de corvos. Ferve o leite na galaxia e vem-se nascer estrelas. ☆ Moradelha editora

Eira XLIX : A casinha branca

Imaxe
  A casinha branca * Detuvo-se um caminhante diante duma casinha branca que resultou-lhe conhecida, pois uma lenda dizia : Aqui viviu Serafim, filho de Manoel e Vicenta. Dous velhos castinheiros enchiam o pequeno pátio, arrodeado por um valado de pedra de porpianho. Uma casinha com flores e luzes dum conto antigo. As suas paredes falavam  co trepar dumas roseiras, querendo cheirar nas fiestras o viver de tempos passados. Apertando-se nas pedras bicavam-se os espíritos. ☆ Moradelha editora

Eira XLVIII : Dia de feira

Imaxe
  Dia de feira em Ribadavia * Ía Angelina bem cedo de Barral atá Sam Paio, sentada numa barquinha com duas duzias de ovos e uma saqueta de favas. Ía direitinha coma um pau, coas favinhas sobre um pano, acima da sua cabeça. Os ovos (que Deus me livre), pola man em seu queipinho. Suas duas mocinhas quedavam travalhando nas herdades e acomodando ao gando, remexendo pola corte ou bem tecendo no linho. O seu home era Herminio,  que marchara para Cuba e já nom mandava cartos, entom tinha que ir feirando sábados a Ribadavia. Uns quantos tragos de vinho e duas patacas asadas cumas froumas no caminho, era o seu jantar do dia, primeiro de vir de volta. A viagem custava-lhe um cam e volvia cuns quatro reais, cuma folha de bacalhau, uma saqueta de azucre e um quartilho de azeite. ☆ Moradelha editora

Eira XLVII : Primeira feira

Imaxe
  Primeira feira * No coto de Novelle já noitece e vai vindo a Lua moi caladinha, que polo Alto dos Castros aparece. Hai muita paz, queridinha. Manhá é primeira feira. Vestidinhos de domingo iremos todos à misa, bem lavadinhos e frescos. E jantaremos na casa da avoa, comeremos um roscom recem feito. Botaremos uma brisca de oito coas mulheres da jogueira. E se a tardinha vai boa, coa camisa de remango passearemos cara à Bouza, levando aos nenos connosco. ☆ Moradelha editora

Eira XLVI : Tremor

Imaxe
  Tremor * Mistérios da noite no Val da Cavada, cum aire de entroido na Presoria ; ao quente do lume, o tempo moi frio. Abaneam pinheiros na cima da serra. As aves noturnas toleam em voo. Nom hai quem durma com tantíssimo berro. O gando já cheira que há mover-se a terra. Començam as campás soas a soar. Repicam, redobram por todo o val. O sacristam descaido, reza o rosário; recolhido na lareira do enxebre bar; cantam com el quatro feligreses. Corre um cam pola Moradelha abaixo, fuge co instinto animal, ouveando escapa. Sinte-se un trono em baixo da terra. Fai-se de dia cum siléncio mortal. ☆ Moradelha editora

Eira XLV : Labrego ilustrado

Imaxe
  Labrego ilustrado * Um condutor de gando com carro e reboque, endereitador de regos i experto em estrumes. Coordinador das colheitas, labrego autodidata. Com duas mans de ferro e um peito de pedra. Uns pés de lameiro e chancos de madeira. Dum pobre património, protagonista da miséria. De pensamento profundo, niilista orgulhoso. Diplomado em gandaria e mestre em cheirar flores. Guia turístico no rural é nosso labrego ilustrado, que chora com Rosalia e ri coas monadas do gato. O que gasta sombrilha ainda que nom chova e chubasqueiro de palha, se os paxaros nom cantam. Quem lé a Castelao e sonha coma Curros. ☆ Moradelha editora